mas verdadeiros
Nos últimos 12 anos, apenas em 2007 Portugal conseguiu cumprir os limites do défice consignados no Pacto de Estabilidade. Mas estamos bem acompanhados: também a Espanha e a França se arrastam em incumprimento desde 2008.
Os resultados dos números da Economia de cada país são o que
são. Neste breve levantamento comparativo dos números oficiais, na óptica da
contabilidade europeia, dos países do Sul da Europa (Portugal, Espanha, França
e Itália), mais a Irlanda que esteve num Programa de resgate com Portugal,
Espanha e Grécia, mais a Bélgica, país que alberga a Comissão e o Conselho
Europeu, ficam à vista inúmeros factos que, dada a clareza dos indicadores,
dispensa quaisquer comentários adicionais.
Nesta brevíssima análise apenas me referi a dois dos itens, que
reputo de importantes: o peso das despesas do Estado face à riqueza gerada no
respectivo país/economia; e o défice gerado pelas contas públicas, em cada
país/economia.
Faço-o porque, como é sabido, especialmente estes dois
indicadores têm sido alvo de especulações e interpretações várias, conforme dão
jeito a um ou outro quadrante político, induzindo mais confusão do que
esclarecimento na opinião pública.
Assim, por respeito para com os meus amigos, e pelo dever de
informar de forma o mais isenta possível, dispenso-me de acrescentar mais
“ruído” a estas discussões, deixando a cada um a liberdade de raciocínio e de
interpretação sobre os factos aqui estabelecidos.
Posto isto, e no que concerne às despesas do Estado que englobam
os gastos do Poder Central, das Autarquias e das restantes Entidades Públicas,
as contas são as constantes do quadro 1 (Despesas do Estado em % do PIB).
QUADRO 1 -
Despesas do Estado em % do PIB
PORTUGAL
|
ESPANHA
|
FRANÇA
|
ITÁLIA
|
BÉLGICA
|
IRLANDA
|
ZONA EURO (19)
| |
2004
|
46,1
|
38,7
|
52,5
|
46,8
|
48,9
|
33,1
|
46,8
|
2005
|
46,7
|
38,3
|
52,9
|
47,1
|
51,4
|
33,4
|
46,7
|
2006
|
45,2
|
38,3
|
52,5
|
47,6
|
48,4
|
33,9
|
46,0
|
2007
|
44,5
|
38,9
|
52,2
|
46,8
|
48,2
|
35,9
|
45,3
|
2008
|
45,3
|
41,1
|
53,0
|
47,8
|
50,3
|
41,9
|
46,6
|
2009
|
50,2
|
45,8
|
56,8
|
51,2
|
54,1
|
47,2
|
50,7
|
2010
|
51,8
|
45,6
|
56,4
|
49,9
|
53,3
|
65,7
|
50,5
|
2011
|
50,0
|
45,8
|
55,9
|
49,1
|
54,4
|
45,5
|
49,1
|
2012
|
48,5
|
48,0
|
56,8
|
50,8
|
55,8
|
41,8
|
49,7
|
2013
|
49,9
|
45,1
|
57,0
|
51,0
|
55,6
|
39,7
|
49,6
|
2014
|
51,7
|
44,5
|
57,3
|
51,2
|
55,1
|
38,6
|
49,4
|
2015
|
48,3
|
43,3
|
56,8
|
50,5
|
53,9
|
35,1
|
48,7
|
Fonte: EUROSTAT
DADOS COM FUNDO NEGRO: referentes aos países e anos em que se
registaram gastos percentualmente superiores aos da média europeia
Verifica-se que, no período analisado (2004 a 2015), o Estado
português apenas em 4 anos (2010, 2011, 2013 e 2014) gastou mais (em
percentagem do seu PIB) do que a média dos países que integram a União
Económica e Monetária e que adoptaram como moeda o Euro.
Percentualmente, em relação ao seu PIB, em despesas do Governo
de Portugal (poder central, autarquias e entidades públicas), gastou sempre
mais do que a Espanha e do que a Irlanda.
Aliás é precisamente a Irlanda o país que apresenta os melhores
rácios do conjunto de países analisados, com excepção do ano de 2010.
Portugal gastou sempre menos, em termos percentuais, do que a
França, e bastante menos que a Bélgica.
Face à Itália (excepto nos anos de 2010, 2011 e 2014), Portugal
sempre teve rácios Despesa-Gastos/PIB melhores, no período considerado.
QUADRO 2 -
Deficit ou Superavit em % do PIB
(PACTO de
ESTABILIDADE: cumprimento e incumprimento do Défice de 3,0%)
PORTUGAL
|
ESPANHA
|
FRANÇA
|
ITÁLIA
|
BÉLGICA
|
IRLANDA
|
ZONA EURO (19)
| ||||
2004
|
- 6,2
|
0,0
|
-3,5
|
- 3,6
|
- 0,2
|
1,3
|
3,0
| |||
2005
|
- 6,2
|
1,2
|
-3,2
|
-4,2
|
- 2,6
|
1,6
|
- 2,6
| |||
2006
|
- 4,3
|
2,2
|
- 2,3
|
- 3.6
|
0,2
|
2,8
|
- 1,5
| |||
2007
|
- 3,0
|
2,0
|
- 2,5
|
-1,5
|
0,1
|
0,3
|
- 0,6
| |||
2008
|
- 3,8
|
- 4,4
|
- 3,2
|
- 2,7
|
- 1,1
|
- 7,0
|
- 2,2
| |||
2009
|
- 9,8
|
- 11,0
|
- 7,2
|
- 5,3
|
- 5,4
|
- 13,8
|
- 6,3
| |||
2010
|
- 11,2
|
- 9,4
|
- 6,8
|
- 4,2
|
- 4,0
|
- 32,3
|
- 6,2
| |||
2011
|
- 7,4
|
- 9,6
|
- 5,1
|
- 3,5
|
- 4,1
|
- 12,6
|
- 4,2
| |||
2012
|
- 5,7
|
- 10,4
|
- 4,8
|
- 2,9
|
- 4,2
|
- 8,0
|
- 3,7
| |||
2013
|
- 4,8
|
- 6,9
|
- 4,0
|
- 2,9
|
- 3,0
|
- 5,7
|
- 3,0
| |||
2014
|
- 7,2
|
- 5,9
|
- 4,0
|
- 3,0
|
- 3,1
|
- 3,8
|
- 2,6
| |||
2015
|
- 4,4
|
- 5,1
|
- 3,5
|
- 2,6
|
- 2,6
|
- 2,3
|
- 2,1
|
|||
DADOS COM FUNDO NEGRO: referentes aos países (incluindo a U.E. do Euro) e anos em que não foram cumpridos os limites do Pacto de Estabilidade, cujo máximo foi fixado pela própria U.E. em 3% do PIB
A contabilidade europeia é diferente, no método, das
contabilidades nacionais, como se sabe.
Daí as diferenças destes números, onde entram outras despesas do
Estado que não entram nos números que têm vindo a público.
De todas as formas, dado que nesta análise foi seguido o mesmo
critério para todos os países, as comparações são válidas para todos e para o
conjunto dos 19 países do Euro.
E desta análise verifica-se que no período de 2004 a 2015,
Portugal apenas cumpriu em 2007 os limites do Défice, estabelecido no Pacto de
Estabilidade.
Ou seja, ficou igual ao máximo permitido pelo referido Pacto.
A Itália, a Bélgica e a Irlanda, cumpriram os critérios, ficando
abaixo dos 3% de défice, em 2015.
Igualmente se verifica que Portugal, a Espanha e a França estão
em incumprimento do Pacto de Estabilidade, no que se refere ao défice, desde
2008.
Nota final:
Por tudo o que acima se expôs, estranho seria se fossem
aplicadas sanções por incumprimento do pacto de Estabilidade a Portugal, no que
se refere ao défice, se a mesma atitude não fosse tomada em relação a Espanha e
a França.
Talvez por isso mesmo (casos da Espanha e da França) a Comissão
tenha decidido ser melhor não aplicar ao nosso País as penalizações previstas
para estes casos.
Uma nota mais, apenas para justificar a não inclusão da Grécia
nestes quadros comparativos.
Como é do domínio público, a contabilidade oficial pública da
Grécia oferece enormes dúvidas quanto ao seu rigor. Por essa razão pareceu-me,
em abono do mesmo rigor, que não devia incluir esse país nas análises acima
efectuadas.
Posto fim, deixo agora aos caros leitores as restantes
conclusões e interpretações que queiram deduzir destes números frios, mas
verdadeiros.
Miguel Mattos Chaves
Director
do semanário "O Diabo"Gestor de Empresas
Doutorado em Estudos Europeus
Auditor de Defesa Nacional