Resposta a Três Afirmações
que andam muito “na moda”
no dito “espaço público” e que são FALSAS:
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(Resposta à 1ª afirmação) - A UE não é um país, … pelo que
comparar PIB’s parece-me incorrecto;
Para fazer alguma comparação, se usamos a U.E. como bloco, então
temos que comparar BLOCOS ECONÓMICOS e não usar comparações entre países.
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Ou seja e neste caso temos que comparar o Bloco U.E., com o Bloco NAFTA;
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Neste caso vejamos os números reais do BANCO MUNDIAL (2015 em
Dólares Correntes) e não as fábulas:
- PIB da U.E a 27 (sem Reino Unido) – (2015): $USD-13.485.349.994.995,0;
- PIB da U.E a 28 (com Reino Unido) – (2015):
$USD-16.370.920.304.155,9;
- PIB da NAFTA: EUA/CANADA/MÉXICO (2015):
$USD-20.825.785.432.673,3.
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Como se vê o 1º Bloco Mundial é a NAFTA.
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(Resposta à 2ª afirmação) - Afirmam que “países europeus
tiveram imposições a seguir à 2ª guerra para não se rearmarem”.
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Esta afirmação veiculada por fontes ditas de “informação”
que não quero adjectivar mais (pois seria indelicado) é falsa e incorrecta,
quer nos termos, quer na substância.
Aqui de três uma:
- Ou quem profere esta frase é ignorante,
- Ou está de má-fé,
- Ou quem a diz certamente de boa-fé, fá-lo por puro mimetismo,
sem cuidar de verificar da sua correcção factual.
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Ora a verdade é que, logo em 1948 o Presidente Eisenhower então Comandante-Chefe das Forças Aliadas e em seguida como Presidente dos EUA (1953 até 1961) avisou os países europeus que “deviam crescentemente prover à sua própria segurança e defesa, mal as circunstâncias da necessária reconstrução económica o permitissem de forma a aliviarem o esforço americano”.
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Na verdade, e desde então, Todos os sucessivos Presidentes têm
feito repetidos “avisos” ou apelos a um maior esforço nestas áreas, por parte
dos europeus, de forma a aliviar a despesa dos EUA nesta matéria.
Aliás o último a fazê-lo foi o antecessor do actual Presidente
dos EUA.
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Recordo que os EUA participavam, até agora, com mais de 70% das
despesas da NATO.
Por outras palavras, enquanto os EUA investem anualmente 3,3 a
3,4% do seu PIB anual, os europeus investem desde há décadas não mais que 1,0%
a 1,1% do PIB de cada país.
Neste campo o país que mais investiu foi exactamente o que está
de saída (o Reino Unido) com cerca de 1,6 a 1,8% do seu PIB, consoante os anos.
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Ora se tal situação no início se justificou, (de 1945 a 1958 – ano em que terminou o racionamento de muitos bens essenciais nos países da Europa Ocidental, nomeadamente no Reino Unido), (e exceptuando a Alemanha que sofreu naturais restrições neste campo) também é verdade que nos dias de hoje a Alemanha, França, etc… já noutra situação económica e política, deveriam ter aumentado o seu esforço para as despesas comuns de segurança e defesa desde, pelo menos, o final da década de 1960.
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Agora, após os avisos mais fortes e mais sérios do actual
inquilino da Casa Branca, a Alemanha e a França dizem que investirão 2% dos
seus respectivos PIB’s.
Os factos falam por si pelo que me dispenso de mais comentários.
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(Resposta à 3ª afirmação) – Dizem por fim muitas pessoas que “É
bom que a UE se integre mais” pois “essa era a vontade dos “Fundadores”;
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Dois comentários apenas quanto à segunda parte da afirmação “essa
era a vontade dos “Fundadores”:
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3.1.- A Linha Fundadora,
e vencedora no início (largamente maioritária até aos anos de 1990/2000),
defendeu uma União dos Estados Soberanos da Europa, onde não haveria
transferências de Soberania para as Instituições Comunitárias.
Eram, e são, os defensores da Europa das Nações.
A Europa da Cooperação Intergovernamental.
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Esta linha que se afirmou e venceu no Congresso da Haia de 1948,
conduziu os destinos da CEE e CEEA e fez dessas Comunidades um bloco atractivo
ao qual todos quiseram aderir, abandonadas que foram as ideias federalistas
presentes na Comunidade Inicial: a CECA.
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Estas, a CEE e CEEA, deixavam de fora Todas as Matérias do
chamado “coração das Soberanias” a saber:
- Política Externa, Defesa, Segurança, Justiça e Assuntos
Internos e as Políticas Câmbial, Monetária e Orçamental.
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Nestas últimas (as de carácter financeiro) os Estados eram
chamados a negociar em permanência e a ajustar os seus interesses pelos
denominadores comuns encontrados.
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E assim permaneceu a União, com enorme sucesso, - pois não feria
as Soberanias e a Autodeterminação das Nações Europeias - (o que provocou a
adesão do R.U., países nórdicos e Portugal e Espanha, para além de outros)
até ao Tratado de Maastricht.
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Esta Linha era e foi defendida, (creio que os meus amigos têm
feito o favor de ler os meus artigos anteriores onde explico mais profundamente
tudo isto, pelo que peço desculpa de repetir apenas uma pequena parte) por
homens como Konrad Adenauer, Charles De Gaulle, Alcide De Gasperi, Paul Van
Zeeland, Paul Henry Spaak, Aristid Briand, Duncan Sandys, etc… e seus
sucessores.
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A outra Linha, a derrotada em Haia em 1948, a dos Internacionalistas, Integracionistas, Federalistas, chefiados por Jean-Monnet, e que integravam homens como Joseph Rettinger, Dennis Rougemont, Altiero Spinelli, Jacques Delors e outros, defendeu sempre a Federalização da Europa com a criação de um Governo Europeu, por de cima dos Governos nacionais.
(Para mais informação ver por favor os meus textos anteriores
ou o meu livro “Portugal e a Construção Europeia – Mitos e Realidades” editado
pela Setecaminhos em 2005, com o Prefácio do Prof Doutor Ernâni Lopes)
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3.2.- Ora como os meus
amigos devem saber defendo e sou um fervoroso adepto da primeira Linha dos
Fundadores:
- A da União da Europa das Nações Soberanas pelas razões de que
devem estar lembrados, mas que lhes relembro apenas as seguintes:
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3.2.1.- Os Povos das Nações da Europa passaram os últimos
milhares de anos em lutas pela conquista da Sua Autodeterminação e Capacidade
de Autogoverno e esse ADN está muito presente e estará. (veja-se os 72
Movimentos europeus com pretensões independentistas que existem e subsistem, de
que o Catalão é apenas agora a parte visível do iceberg);
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3.2.2.- O Continente Europeu é composto por três grupos
principais:
- Eslavos, - Germanos e - Latinos.
Os seus interesses, costumes, objectivos sempre foram diversos e
conflituantes.
...Obs: Quando o alargamento a Leste se produziu, alguém muito sabedor e estudioso das questões do continente me disse:
- “… isto é o fim da União Europeia pois vai-se tornar
ingovernável” .. citei.
Concordo com tal afirmação.
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E logo começaram a vir à tona as divergências: cito sempre como
exemplo paradigmático o Reconhecimento Unilateral da Alemanha da Independência
da Croácia, acto que despoletou a “Guerra dos Balcãs” de 1992 que depois
tiveram que ser a NATO, mas sobretudo os Americanos, a resolver.
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3.2.3.- E se quiserem outro exemplo, foi a fundação nos anos de 1990, entre a França e Alemanha de uma “Brigada Militar Mista” que ainda subsiste nos dias de hoje, sem consulta a nenhum dos outros membros.
Na verdade, os interesses da Alemanha estão no Leste da Europa.
Os Franceses tentam não “perder o comboio” do Leste.
E agora querem instrumentalizar (pela 5ª vez) os restantes
europeus.
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E por aqui me fico.
As minhas desculpas por tão longa resposta a estas “afirmações”.
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Melhores cumprimentos
Miguel Mattos Chaves
Doutorado em Estudos Europeus (Universidade Católica)
Auditor de Defesa Nacional (Instituto da Defesa Nacional)
Gestor de Empresas
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