O Salário
Médio na Europa e em Portugal
Comparações de
Rendimentos, Fiscalidade e Preços
com Espanha
Muito se tem falado sobre a questão comparativa da
produtividade e do desempenho das economias dos vários países, tentando sempre
encontrar defeitos em Portugal e qualidades no estrangeiro.
Por outro lado muitas comparações são feitas entre
Portugal e outros países, pecando as mesmas, normalmente e salvo raras
excepções, por serem parcelares e apenas referidas a um ou dois indicadores.
Cabe-me tentar ir um pouco mais longe e verificar se
as análises parcelares que têm sido feitas pelos diversos partidos políticos
são isentas, ou se pelo contrário, são tendenciosas e variam consoante estão no
Governo ou na Oposição.
Vejamos então o que se passa na realidade e não nos
vários, e variáveis, discursos políticos.
(1). O salário
médio bruto nos 28 países da União Europeia
(incluindo portanto os países do Leste europeu) é de
1.995 euros por mês, sendo em Portugal de apenas 986 €.
Em termos do “ranking” Portugal ocupa a 18ª posição,
no cômputo dos 28 Estados que integram a União Europeia. Mas se consideramos
apenas os países da Europa Ocidental, com quem todos gostam muito de se comparar,
então Portugal é o país em que se verifica o salário médio bruto mais baixo.
Assim, como se pode verificar no quadro 1, os países
onde o salário médio é mais alto do que em Portugal são:
Quadro
1
País
(Fonte:
Eurostat)
|
Salário Médio Bruto
(antes dos descontos)
|
Portugal
|
986€
|
Grécia
|
1.011€
|
Malta
|
1.168€
|
Chipre
|
1.256€
|
Espanha
|
1.640 €
|
Itália
|
2.017€
|
França
|
2.255€
|
Áustria
|
2.383€
|
Outros
|
…..
|
Dinamarca
|
3.553€
|
sendo que a Dinamarca ocupa o 1º lugar.
Os países com salários mais baixos são 10, todos
eles da Europa de Leste, sendo que o país onde se paga o salário médio mais
baixo é a Bulgária.
Caso para dizer que a nossa falta eventual de competitividade, enquanto País, não está nos
salários mas sim noutros factores de gestão tais como a Organização e o
Planeamento.
Uma clarificação para referir que por Salário médio bruto,
entende-se o Salário antes dos descontos para a Segurança Social, para o IRS e
quotizações.
Assim Portugal tem o salário médio bruto mais baixo
da Europa Ocidental.
(2). A
comparação entre Portugal e a Espanha,
em matéria de rendimentos e de carga
fiscal
Mas façamos agora uma comparação apenas entre os
dois países que ocupam o território conhecido como Península Ibérica: Portugal
e Espanha.
Em matéria da carga fiscal média sobre o trabalho
verifica-se que em Espanha esta é de 15,1%, sendo a contribuição média para a
Segurança Social de 6,4%.´
Em Portugal a carga média fiscal média sobre o
trabalho é de 17,3%, sendo a contribuição para a Segurança Social de 11% por
trabalhador.
No conjunto dos países da OCDE verifica-se uma carga
fiscal, média, de 15,7% e uma contribuição para a segurança social, média, de
9,8%, conforme o descrito no quadro 2.
Quadro 2
PAÍS
(Fonte: OCDE)
|
IRPF
|
Seg.
Social
|
Total
Carga Fiscal sobre o trabalho dependente (média mensal)
|
Portugal
|
17,3%
|
11,0%
|
28,3%
|
Espanha
|
15,1%
|
6,4%
|
21,5%
|
Média OCDE
|
15,7%
|
9,8%
|
25,5%
|
(3). As
contas a fazer, a partir daqui, são de uma simplicidade mediana.
Assim o resultado destes dois primeiros quadros, e
elementos neles contidos, permite-nos perceber o que fica disponível para cada
cidadão de Espanha e de Portugal, para poder poupar, ou para consumir, (comprar
o que quiser), numa palavra – para poder viver, como é seu inalienável direito.
Vejamos:
Espanha:
Salário médio bruto – 1.640 €.
Subtraindo os
impostos e taxas a que estão sujeitos, no valor médio de 21,5% (ou seja 352,6 €) dá
como resultado que os cidadãos que trabalham em Espanha ficam com 1.287,4€, em
média, por mês, para poderem consumir ou poupar, ou seja para viver.
Portugal:
Salário médio bruto - 986€.
Subtraindo os
impostos e taxas a que estamos sujeitos, no valor médio de 28,3% (ou seja 279,04€) dá
como resultado que os cidadãos que trabalham em Portugal ficam com apenas 706,96€
para poderem consumir ou poupar, ou seja para viver.
A diferença é também ela de simples aritmética e dá
os seguintes resultados:
Os Espanhóis ficam, em média com 1.287,4€ líquidos, para viver.
Os Portugueses ficam em média com 706,96€ líquidos, para viver.
Logo os espanhóis têm mais 580,44€ por mês, em média, para gastar dos que os portugueses.
A Economia espanhola agradece e os espanhóis também.
Mas poder-se-ia dizer, ou invocar, que o Nível de
Vida em Espanha é mais caro do que em Portugal.
Isto é, apesar de ficarem com mais dinheiro o custo
dos bens essências para viverem seria mais caro do que no nosso país.
Ora o que os números reais dizem não é nada disso,
como se poderá verificar a seguir.
(4). A
comparação entre Portugal e a Espanha,
em matéria de preços dos bens essenciais
para viver
Na habitação, tomemos como exemplo o
valor de uma renda de casa em Madrid e em Lisboa. No Bairro Salamanca de
Madrid, um T3 varia entre os 970 a 1.600€ de renda por mês, variando em Lisboa,
em zona que se pode considerar similar, entre os 950 e os 1.500 euros. Ou seja
práticamente o mesmo custo de renda nas duas cidades.
Já no que se refere a preços dos bens essenciais de alimentação, praticados
nos Supermercados, encontramos em Espanha os seguintes, expressos no quadro 3: (de
propósito deixo os nomes, que figuram na base de dados, na língua original,
traduzindo apenas os menos fáceis de decifrar em leitura rápida)
Quadro 3
Produto
(Fonte: Preciosmundi - Precios en España 2016)
|
Unidade
Refª
|
Preço
Venda Público
|
La cerveza importada
|
33 cl
|
1,17 €
|
Cerveza nacional
|
0,5 litros
|
0,80 €
|
Botella de Vino
|
Calidad media
|
4,50 €
|
Agua
|
1,5 litros
|
0,56 €
|
Cebollas
|
1kg
|
0,98 €
|
Patatas
|
1 kg
|
0,83 €
|
Tomates
|
1 kg
|
1,41 €
|
Naranjas
|
1 kg
|
1,18 €
|
Plátanos (Bananas)
|
1kg
|
1,47 €
|
Manzanas (Maçãs)
|
1 kg
|
1,55 €
|
Pechugas de pollo (frango)
|
1 kg
|
5,80 €
|
Queso fresco
|
1 kg
|
9,40 €
|
Huevos (ovos)
|
Una docena (12)
|
1,63 €
|
Arroz
|
1kg
|
0,95 €
|
Pan (pão)
|
1 kg
|
0,94 €
|
Leche (leite)
|
1 litro
|
0,78 €
|
Como se pode verificar os preços dos bens essenciais de Espanha, em bens básicos de
alimentação e bebidas, (nos detergentes e outros similares é igual) ou os
preços são quase iguais ou são mesmo inferiores aos encontrados, para os mesmos
produtos, nos supermercados do nosso país, como qualquer dona de casa sabe,
pela simples leitura deste quadro.
Quanto à rubrica de transportes, o preço em Espanha para a Gasolina (95) é de 1,21 €
por litro. Já o Passe mensal de transporte público, em Madrid, cifra-se nos
45,00 € mensais. Em Portugal o preço da gasolina 95 anda em redor dos 1,48 €
por litro e o Passe mensal de transportes vai dos 35 aos 75 euros consoante a
modalidade, como é sabido.
Já no que se refere a taxas de juro praticadas para Empréstimos para a compra de casa, ou
para pagamentos de Hipotecas a taxa praticada em Espanha é de 2,73 % ao ano.
(5).
Em conclusão:
Os Espanhóis têm uma carga fiscal média mais baixa
que os Portugueses, contribuições para a Segurança Social igualmente mais
baixas, pagam pelos produtos essências para viver, uma soma quase igual ou mesmo
inferior à despendida pelos consumidores portugueses, mas o seu salário médio
bruto mensal é bastante superior, sendo em Espanha de 1.640 € por mês e em
PORTUGAL de apenas 986 € por mês, ou seja uma diferença a favor dos cidadãos
espanhóis de mais 654 euros de rendimento bruto (em média) por mês.
Já no que se
refere ao dinheiro com que um cidadão espanhol fica, (depois de pagar os
impostos), para viver é de mais 580,44€ por mês (em média) do que um português.
Ou seja, os espanhóis ganhando mais, suportam menos
carga fiscal e pagam igual ou menos dinheiro, pelos bens essenciais, que os Portugueses,
o que lhes deixa um Salário Médio Líquido (depois dos descontos efectuados) bastante
superior.
Não admira que a Economia espanhola seja mais
pujante que a Portuguesa e não admira, em conclusão final, que os Espanhóis
tenham um melhor nível de vida líquido que os Portugueses.
Donde o
problema da nossa baixa produtividade não vem dos salários praticados em
Portugal.
É preciso encontrar a razão desse fenómeno em vários
outros factores tais como a deficiente gestão da maioria das nossas empresas,
nomeadamente em matéria de organização e planeamento, bem como na constatação
de que nos tornámos numa economia que produz produtos e serviços de baixo valor
acrescentado por falta de investimentos sérios e continuados em Investigação e
Desenvolvimento.
Neste quadro geral, encontram-se felizmente algumas (poucas
infelizmente) excepções em empresas que são bem geridas, nas quais os seus
gestores têm a noção que o seu principal activo são as pessoas e como tal estas
têm que ser formadas em continuo, têm que ser motivadas e remuneradas em
consonância com os seus méritos e capacidades, para que estas rendam cada vez
mais e se sintam bem nas empresas em que trabalham.
Uma pessoa que passe grandes dificuldades para viver
o seu dia-a-dia e alimentar a sua família, só por sorte (ou grande
auto-motivação) vai trabalhar todos os dias de espírito liberto, de forma a ser
mais produtiva.
E nesta situação, lamento dizê-lo, não há inocentes.
Dirigentes Políticos, Empresários ou Dirigentes de
empresas têm igual responsabilidade nesta matéria.
Enquanto estes três grupos não mudarem a sua
mentalidade, a Economia Portuguesa dificilmente será florescente e saudável,
com bons resultados para Portugal.
Vai sendo tempo de atentarmos nestas realidades e
não embarcarmos nas meias verdades, ou mesmo mentiras descaradas, que nos têm
sido vendidas por diversas formas comunicacionais.
Miguel Mattos
Chaves – PhD
Candidato a Presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz