Em primeiro lugar há que
separar o investimento público, do investimento privado. São duas coisas
diferentes, como se sabe, embora a sua soma produza os tais indicadores que são
discutidos na “praça pública” a maior parte das vezes com pouca ou nenhuma racionalidade.
O investimento público, depende
dos Governos e é o único de decisão directa do executivo. Mas também é sabido
que influência directa ou indirectamente os privados. Cabe assim a cada Governo,
desejavelmente, estabelecer os Planos de Investimento público, e pô-los em
execução.
Na minha opinião o
investimento público, devia ser exclusivamente dirigido para campos onde os
privados não têm interesse em investir. Quer por se tratar de sectores que
muito dificilmente são rentáveis, mas necessários à vida das populações, quer
por se tratar de sectores em que o volume de dinheiro necessário é demasiado
para interessar os investidores privados, atenta a sua rentabilidade normal.
Neste capítulo, temos
assistido em Portugal a que os Governos, ao mesmo tempo que têm feito
investimentos úteis à sociedade (infra-estruturas de abastecimento de água,
gás, electricidade, comunicações, estradas, caminhos de ferro, etc…). têm
também, por motivos apenas de “caça ao voto”, desperdiçado dinheiro, pois têm
gasto boa parte do mesmo em obras supérfluas, inúteis que apenas vão
sobrecarregar a dívida de todos nós.
Temos inúmeros exemplos
disto, por todo o país: rotundas, fontanários, estátuas em grandes quantidades,
obras faraónicas como o CCB e outras bem conhecidas de todos, pavilhões
gimnodesportivos em aldeias de 600 habitantes, piscinas aquecidas a esmo (para
as quais depois não há dinheiro para funcionarem), auto-estradas em excesso, onde
ninguém passa por serem caras a quem utiliza ou por não haver mesmo trânsito
que as tivesse justificado, escolas onde não há jovens, PPP’s, etc…etc!
Por tudo isto, os
impostos, taxas, coimas (algumas delas são impostos disfarçados) são cada
maiores o que traz como consequência que os portugueses são, (dos países
ocidentais) os que têm menos dinheiro para gastar consigo próprios, animando a
economia. (Vidé artigo, quantificado e comparativo, que publiquei em anterior
edição do nosso semanário).
O investimento privado é,
por outro lado e como é do conhecimento geral, aquele que provem de indivíduos
ou empresas privadas, e tem como objectivo saudável o lucro. Este tipo de
investimento propícia, para além do desejável lucro, a criação de empregos para
as pessoas, o bem-estar psicológico para quem tem emprego, a “construção” de
famílias, o bem-estar material das famílias e dos indivíduos, o surgimento de
novos negócios para outras empresas (existentes ou a existir), receitas para o
Estado e outros benefícios que todos conhecem.
Tal quadro devia ser a
preocupação principal da qualquer Governo, de qualquer Partido. de qualquer
Dirigente eleito e traduzida em actos concretos.
A população saberia com
certeza reconhecer os méritos dos Partidos e dos seus dirigentes se, em nome do
interesse dos portugueses, desenvolvessem acções conjuntas nesta matéria. Como
assim não tem acontecido, a não ser nos discursos, os Partidos e os seus
dirigentes passaram a ter mau nome e má fama junto da maioria dos cidadãos. E
com razão, digo eu.
Mas voltemos à discussão
existente nos últimos dias, à análise sobre o que temos ouvido, no dia-a-dia
das televisões e jornais, que se poderá traduzir na linguagem comum pela frase
– “o meu Governo teve melhores resultados em Investimento que o teu!”.
Vamos em seguida
verificar se esta asserção é verdadeira ou se tem algum conteúdo.
Comecemos então por
comparar o investimento e variações anuais, durante a vigência dos últimos três
Governos de Portugal:
- PSD/CDS, o XVº e XVIº Governos
Constitucionais de Abril-2002 a Mar-2005, chefiados respectivamente pelo Dr.
Durão Barroso e pelo Dr. Pedro Santana Lopes;
- PS, o XVIIº e XVIIIº
Governos Constitucionais, de Mar-2005 a Jun-2011, chefiados pelo Engº José
Sócrates;
- PSD/CDS, o XIXº Governo
Constitucional, de Junho de 2011 a 30 de Outubro de 2015, chefiado pelo Dr.
Pedro Passos Coelho.
Nota prévia: Os anos de sobreposição dos Governos
(2002-2005-2011) foram atribuídos igualmente às performances do Governo
cessante e do Governo que tomou posse, para a simplificação dos raciocínios e
das análises. Dado que o critério foi uniforme e igual para todos, as
comparações e análises são válidas pois estamos a tratar de séries longas. Se
quiserem ir mais fundo, terão que analisar mês a mês de cada Governo.
Os anos de 2002 até 2013
apresentam já os números finais de investimento. Os números referentes aos anos
de 2014 e 2015 são ainda estimados, ou seja, provisórios. A fonte primária,
utilizada para a recolhas dos dados necessários para este trabalho, foi o INE.
Vejamos então os
resultados:
1.- Governos do PSD/CDS - XVº e XVIº - Abril-2002 a Mar-2005
Investimento
|
2002
|
2003
|
2004
|
2005
|
(milhões euros)
|
||||
Valor
|
42.500,4
|
39.391,3
|
39.448,1
|
39.485,1
|
Var % anual
|
-3,38%
|
-7,32%
|
0,14%
|
0,09%
|
Comentário: Como se pode verificar, a média de
investimento anual, neste período foi de 40.206,22
milhões de €, por ano. Estes Governos tiveram performances
negativas fortes em 2002 e 2003, (decréscimos acima dos 3%/anuais) e um
crescimento quase nulo em 2004 e 2005 (abaixo de 1%). Se compararmos o 1º ano
(2002) com o último ano em que governaram, (2005), temos um decréscimo de -7,09% no investimento.
A média de investimento
anual, comparando com a média anual dos quatro anos anteriores (1998-2001),
decresceu, cifrando-se em -2.014,62 milhões
de €/ano, ou seja um decréscimo de -4,77%, no
investimento anual. Este Governo deixou os números do investimento piores do
que os encontrou, quando tomou posse.
2.- Governos do PS - XVIIº e
XVIIIº - Mar-2005 a Jun-2011
Investimento
|
2005
|
2006
|
2007
|
2008
|
2009
|
2010
|
2011
|
(milhões euros)
|
|||||||
Valor
|
39.485,1
|
39.151,0
|
40.365,4
|
40.514,4
|
37.447,3
|
37.094,9
|
32.451,8
|
Var % anual
|
0,09%
|
-0,85%
|
3,10%
|
0,37%
|
-7,57%
|
-0,94%
|
-12,52%
|
Comentário: A média de investimento, no período
considerado, foi de 38.072,85 milhões de
€, por ano. A tendência de queda manteve-se, embora no ano de 2007 e 2008,
tenha havido algum crescimento, (acima dos 3% em 2007), apenas face ao ano
anterior. Se compararmos o 1º ano (2005) com o último em que governaram, a
performance é igualmente negativa em -17,81%.
A média de investimento anual, comparando com a média anual dos
anteriores Governos (2002-2005), decresceu, cifrando-se em -2.133,37 milhões de €/ano, ou seja menos 5,31% de investimento por ano. Este Governo deixou os números
do investimento piores do que os encontrou, quando tomou posse.
3.-
Governo do PSD/CDS - XIXº - Jun-2011
a Out-2015
Investimento
|
2011
|
2012
|
2013
|
2014
|
2015
|
(milhões euros)
|
|||||
Valor
|
32.451,8
|
27.057,7
|
25.689,8
|
26.413,7
|
27.504,7
|
est*
|
est*
|
||||
Var % anual
|
-12,52%
|
-16,62%
|
-5,06%
|
2,82%
|
4,13%
|
Comentário:
(Os
valores de 2014 e 2015 são ainda provisórios).
A média de investimento anual, no
período considerado, foi de 27.823,54 milhões
de €, por ano. A tendência de queda, já verificada na vigência do governo
anterior, manteve-se, embora no ano de 2014 e 2015, (ainda por estimativa) tenha
havido algum crescimento (em 2015 - se se confirmar - acima dos 3% - apenas face
ao ano anterior).
Se compararmos o 1º ano (2011) com o último
em que governaram, a performance é, no entanto, igualmente negativa em menos 15,24%.
A média de investimento anual,
comparada com a média anual dos anteriores Governos (2005-2011), decresceu,
cifrando-se em -10.249,31 milhões de €/ano,
ou seja um decréscimo de -26,92% no
investimento anual. Este Governo deixou os números do investimento
piores do que os encontrou, quando tomou posse.
Resumindo:
Postos os factos, estes são os números
que me levam a não perceber, de todo, os discursos a que assistimos no
dia-a-dia, sobre este capítulo das contas de Portugal, quer por parte do
PSD/CDS quer por parte do PS.
Nenhum dos partidos/governos se pode
gabar de ter feito o que devia, neste campo, isto é nenhum se pode gabar de ter
impulsionado o Investimento em Portugal de forma consistente e duradoura. Todos
deixaram os números do investimento piores do que os encontraram, quando
tomaram posse.
Em todos os Governos os resultados de
investimento do 1º ano foram mais altos do que os resultados do investimento do
último ano do seu mandato.
Se analisarmos a média de investimento
anual, no período desta análise – 2002 a 2015 – este foi de 35.439,45 milhões
de euros € por ano.
Tendo
o PIB médio/anual andado à roda dos 174,5 mil milhões de
euros, o investimento teve, também em termos médios, um significado em torno
dos 20% do PIB.
È pouco ou é muito, essa discussão
deixo-a para a “gritaria” do dia-a-dia.
Na minha opinião é pouco para as
necessidades de enriquecimento e bem-estar material dos portugueses, em
particular, e de Portugal, em geral.
O
antes e o após do Euro.
Para terminar esta análise, falta ainda
analisar o Investimento em Portugal, antes da entrada da Moeda Única em
circulação, o que aconteceu no ano de 2002, como é do conhecimento público.
Vejamos então esses números:
4.
Investimento - Antes da entrada em circulação, em Portugal, do Euro
Investimento
|
1995
|
1996
|
1997
|
1998
|
1999
|
2000
|
2001
|
(milhões euros)
|
|||||||
Valor
|
29.406,1
|
30.911,1
|
35.318,2
|
39.464,7
|
41.863,8
|
43.568,0
|
43.986,9
|
Var % anual
|
5,12%
|
14,26%
|
11,74%
|
6,08%
|
4,07%
|
0,96%
|
Comentário:
A
média de investimento anual, no período considerado, foi de 37.788,40 milhões de €, por ano.
Neste período, observou-se uma
tendência de crescimento anual, embora a partir do ano de 2000, tenha diminuído
drásticamente esse crescimento, (para menos de 1% em 2001).
Se compararmos o 1º ano considerado (1995)
com o último desta análise (2001), a performance é positiva: + 49,58% de investimento.
Ou seja, antes da entrada em vigor da
circulação do euro (1 de Janeiro de 2002) o investimento crescia a taxas
superiores a 3% ao ano.
Se este crescimento do investimento era
mais à base do investimento público ou se era mais à base do investimento
privado, isso seria uma análise interessante, não só para este período, como
para todos os subsequentes. De todas as formas não foi esse o objecto deste
trabalho, nem interessa para as conclusões do mesmo.
É evidente que vários factores
exógenos contribuíram para este panorama desolador, da pós-entrada em
circulação da moeda única.
Mas o que é um facto é que pouco ou
nada se fez para mudar e inverter esta situação.
De forma sustentada, ao longo destes
últimos 21 anos nada se fez de profundo, coerente e sustentado de forma a
facilitar e a atrair novos investimentos, sobretudo da esfera privada.
Portugal, os dirigentes políticos e os
portugueses, já deviam saber que para atrair investimento, pouco ou nada
interessam as siglas de cada partido, ou quem é o partido que está no poder.
Interessam sim as condições para o atrair.
Como o demonstram vários estudos de
sensibilidade, a empresários de todo o mundo, os factores verdadeiramente decisivos
de atração de investimentos, repito, são:
A existência de um quadro Fiscal,
claro, simples e duradouro. Não digo impostos e taxas baixos ou altos sobre as
empresas. Claro que isso também ajuda. Digo duradouro, isto é, o quadro fiscal tem
que ser imutável por longos anos, e estabelecido de forma clara, transparente e
conhecida de quem quer investir.
Uma segunda condição de atração do
investimento é existirem Leis estáveis, claras e duráveis. E, ainda neste
campo, que exista uma Justiça organizada e célere, que resolva os conflitos
legais no mais curto espaço de tempo.
A terceira condição é, também ela,
muito simples: - para atrair investidores é necessário que exista um processo
de autorização do estabelecimento de empresas muito rápido, simples e muito
claro. Que dentro deste factor, existam prazos máximos para as entidades
públicas se pronunciarem, findo os quais a instalação do investimento
considera-se automática e irrevogavelmente autorizado a funcionar.
Ainda directamente ligado ao ponto
anterior, existe a necessidade absoluta de o processo ser desburocratizado ao
máximo, com apenas uma ou duas entidades a intervirem no sentido de facilitarem
(e não de complicarem) o processo de investimento e abertura de novas empresas,
sejam elas escritórios de serviços, sejam elas fábricas, hotéis, ou outras
unidades produtivas e geradoras de emprego.
Como instrumento facilitador volto a
falar do Banco de Fomento sobre o qual já escrevi por diversas vezes, mas que
por conivência e cumplicidades existentes entre o Poder Político e o Poder
Financeiro, ainda não foi restaurado.
É pena. Em vários países
desenvolvidos, tal como a Alemanha, este banco de apoio a novos investimentos é
essencial para a facilitação do aparecimento dos mesmos, e para a sua
concretização. Em Portugal já existiu. Mas foi destruído. Porquê? Até quando Senhores
Governantes e Senhores Dirigentes dos Partidos da Oposição?
Por fim uma pergunta ainda mais
directa: Querem fazer parte da solução para o país, ou querem continuar a fazer
parte do problema?
Miguel
Mattos Chaves
Director do semanário
"O Diabo"
Gestor de Empresas
Doutorado em Estudos
Europeus
Auditor de Defesa Nacional
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