03 outubro 2016

No final da Silly Season ... o estado das coisas

No final da Silly Season ... o estado das coisas
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Quase no fim da “silly season”, inglesismo que traduz o período de Verão em que aparecem muitas e frívolas histórias nos órgãos de comunicação social, ou então são relatados crimes e desastres que de outra forma seriam relegados para as não-notícias, resta-me escrever sobre três dos poucos acontecimentos internos que me mereceram alguma atenção.
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Começo pelos fogos florestais e seus desenvolvimentos. Não vou repetir tudo o que no nosso semanário foi escrito em análises e artigos de opinião, como nos cumpre, por diversas personalidades. ...
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Limito-me a exprimir três desejos:
1- que neste Outono e Inverno se organizem de vez, e de forma competente, as actividades de vigilância da floresta, com o restauro urgente da Guarda Florestal;
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2- que a prevenção, seja levada a efeito através da limpeza necessária das matas, com a ajuda e coordenação dessa força; - e finalmente que o planeamento e a alocação dos meios de combate seja alvo de uma reorganização completa.
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3- Nesta última tarefa espero que a compra dos meios terrestres de combate a incêndios dos bombeiros, passe para a exclusiva responsabilidade do Governo (seja ele qual for), e que os equipamentos aéreos de combate sejam colocados sob o comando exclusivo da Força Aérea, de preferência reequipando os C130 e os Helicópteros para o efeito, retirando da esfera privada qualquer lucro possível com os incêndios.
Depois de tudo o que veio a público e das promessas do actual Primeiro-Ministro é o mínimo que se pode esperar.
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Um segundo acontecimento que me mereceu a atenção foi o da recapitalização da C.G. de Depósitos.
Neste particular, e como português, independentemente das “trapalhadas” do processo, congratulo-me por este banco continuar na esfera do Estado português e não ter ido parar a mãos estrangeiras.
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Dentro de poucos meses, os portugueses irão defrontar-se com um facto grave de que ainda poucas pessoas se aperceberam.
Refiro-me à quase certeza de que todos os restantes bancos comerciais possam passar para a propriedade de entidades estrangeiras.
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Se assim for restará às empresas portuguesas, na sua maioria, defrontarem-se com o facto de que as futuras decisões de apoio ao investimento, ou de crédito necessário ao desenrolar das suas operações, passarão a ser tomadas fora de Portugal.
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Tal situação não seria nada benéfica para as mesmas. Mantendo-se a Caixa em mãos nacionais, existe a esperança que o seu poder financeiro possa minimizar este problema.
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Finalmente no plano político-partidário vi, com grande desgosto, as atitudes do CDS-PP, face ao poder político de Angola e a sua colagem ao PSD, nas suas actividades de oposição.
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Tais atitudes traduziram uma realidade: - não existe uma estratégia clara deste partido que seja coerente com os seus princípios e valores. Está o mesmo sem rumo e continua a enviar sinais contraditórios às pessoas, evidenciando uma fraqueza programática e ideológica confrangedora, sobretudo junto do eleitorado conservador e democrata-cristão.
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Já o disse publicamente e reafirmo:
- Portugal tem vivido uma democracia deficiente em que só os sociais-democratas (com tendências liberais ou socialistas) ou a esquerda mais radical se fazem ouvir.
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A direita, conservadora e democrata-cristã, por incompetência, por desunião ou por um excesso de sede de protagonismo de alguns dos seus interventores políticos, e consequente falta do “espírito de missão” necessário, não tem sido capaz de alcançar a possibilidade de governar segundo os seus valores e programas, pois das vezes em que esteve representada no governo, foi a reboque e sob a direcção dos sociais-democratas liberais, ou seja de outros.
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Em consequência nunca pôde apresentar e pôr em prática o seu modelo de governo alternativo ao modelo vigente nas últimas décadas.
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Portugal precisa de alternativas.
Seria bom para a democracia portuguesa, para Portugal e para os Portugueses, que a direita finalmente assentasse a sua mensagem e acção nos seus valores e programas e os transmitisse de forma coerente e perceptível, sem desfalecimentos nem receios, de forma a se tornar numa alternativa credível.
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Resta-me ter a esperança de que as recentes atitudes da liderança do partido dos conservadores e democratas-cristãos portugueses tenham sido apenas motivadas pelos devaneios tontos, próprios da “silly season”.
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matos.chaves@gmail.com
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Um abraço a todos
Miguel Mattos Chaves

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