Uma união
reforçada, fulcro do poder mundial
Dentre os vários acontecimentos mundiais, na minha
opinião três dominam, por levantarem questões importantes que poderão ditar
grandes mudanças no paradigma da vida dos cidadãos, pelo menos nos do mundo
ocidental.
Refiro-me, naturalmente, ao cada vez mais certo
reforço do eixo-Londres-Washington, à questão da violência crescente no Brasil,
que pode ditar mudanças drásticas no cenário político deste grande país, e
também à situação de descontentamento crescente, por parte das populações de
vários países na União Europeia.
*
No primeiro caso, com a saída, agora inevitável, do
Reino Unido da União Europeia (a menos que a Câmara dos Lordes do Reino Unido
provoque uma crise institucional e política, que não se prevê), e com a vontade
política expressa pela nova administração dos Estados Unidos, é já mais do que
claro que a união que sempre existiu entre estes dois poderosos países se irá
intensificar e aprofundar.
São dois países económica e financeiramente poderosos
(têm no seu seio duas das mais activas e poderosas Bolsas Mundiais – Nova
Iorque e Londres), ambos fazem parte do Conselho de Segurança da ONU, ambos têm
Forças Armadas modernas e bem equipadas, ambos são potências nucleares e ambos
exercem influência política e económica em várias partes do globo, embora a
predominância nestes factores pertença aos EUA.
Face a estes dois países juntos, só eventualmente a
China poderá aspirar a conquistar alguma paridade, ainda que apenas no médio ou
mesmo no longo prazo, dadas as suas debilidades. Mas por enquanto o seu papel
continua a ser predominantemente regional, ainda que tenha assento também no
Conselho de Segurança da ONU e tenha conquistado algum papel nalgumas facetas
do comércio internacional, de que se tem aproveitado com algum sucesso, mas não
dando sinais evidentes de pretender aspirar, pelo menos por enquanto, a
expandir a sua influência e poder no Mundo, dados os custos que um tal
posicionamento implicaria.
Do mesmo modo a Rússia, outro “player” internacional,
tem um papel igualmente importante, mas também iminentemente regional, se
considerado o conjunto dos factores do poder mundial, e não parece aspirar a
mais, pelo menos no curto prazo. Quer proteger a sua influência no “back yard”,
nomeadamente nos países que consigo fazem fronteira e na zona do Médio Oriente
e pouco mais.
Ambos, China e Rússia, têm muitas e sérias debilidades
internas, demasiado importantes e demasiado onerosas de resolver, para que
possam pretender projectar a sua influência e poder para muito mais pontos do
globo, que os já descritos.
Resta assim, como fonte predominante do Poder Mundial,
o eixo Londres-Washington que, pela sua riqueza e capacidade de projectar poder
efectivo, tenderá a ter um poder de atracção muito grande sobre outros países.
Começa já a ser claro, e esta perspectiva tem contribuído para animar a
economia e as finanças dos dois países.
Na verdade as valorizações bolsistas em ambos os
países estão a atingir valores e a estabelecer recordes absolutos. As
perspectivas de um novo acordo entre ambos, a par das políticas económicas já
anunciadas por May e por Trump, estão a gerar uma onda de optimismo nos
empresários destes dois países, passados que foram alguns receios iniciais.
Veremos dentro de um ano os resultados desta
reaproximação, agora em novos moldes. Uma coisa é certa: a Ordem Mundial está a
mudar, e o pêndulo do poder inclina-se claramente a favor deste potente eixo
geopolítico, situado no Atlântico Norte.
*
Uma outra questão, mas de sinal contrário, tem a ver
com a violência crescente num dos países da Lusofonia, o Brasil. Esta crise
tem, em si mesma, o potencial de poder levar a mudanças internas no que se
refere à configuração do Poder.
É bom não esquecer que neste país, em particular, mas
na América do Sul, em geral, já estiveram na moda “ditaduras militares” que
dominaram o continente. Ora é com alguma preocupação que se observa a
crescente, e aparentemente imparável, auto-descredibilização da classe
política, assolada por inúmeros casos de corrupção grave, atentados ao poder
judicial e incompetência funcional, factores que têm vindo a degenerar em
desordem e insegurança nas ruas de várias cidades do país, tendo provocado já
várias dezenas de mortes.
Ora sabe-se, pela História, que tal situação é “o
caldo de cultura” natural para que seja a população a pedir, mais cedo ou mais
tarde, a intervenção das Forças Armadas para restaurarem a Paz e a
tranquilidade e para reporem a ordem.
Como não se antevê, pelo menos de momento, nenhuma
personalidade política que reúna em seu redor um consenso tal que lhe permita
transformar-se num catalisador de vontades do país; como muito menos se antevê
que qualquer das formações políticas tenha ainda a credibilidade para o poder fazer,
restam poucas saídas de organização de Poder.
Assim, vai ser interessante seguir de perto e com
muita atenção os acontecimentos no país irmão e que nos devem, como amigos,
preocupar.
*
Finalmente, na quarta economia da “união”, a Itália,
assiste-se ao impensável até há uns meses atrás, ou seja, a um crescente mas
sólido sentimento anti-moeda única, que atravessa toda a sociedade, dos jovens
aos menos jovens, mulheres, homens, de praticamente todos os quadrantes
políticos, verificando-se um crescente apoio às formações anti-união, como
sejam os Fratelli d’Italia, o Movimento 5 estrelas e a Liga do Norte, que estão
a conquistar eleitorado ao ex-Partido Socialista, agora Movimento Democratico.
São já muitos os que estão contra a moeda única. No
entanto, a maioria dos italianos quer permanecer na União Europeia e não
pretende seguir o exemplo britânico.
Num recente estudo do Euro-barómetro, 47% dos
italianos disseram que o Euro é mau, contra 41% dos que dizem ser bom. Este
factor é novo na sociedade italiana e é revelador de uma tendência crescente,
pois em 2002, 79% eram a favor do Euro e agora apenas 41% ainda mantêm essa
posição.
Por outro lado, o impasse criado pela demissão de
Renzzi, após a sua derrota no Referendo, tem levado a algum mal-estar. A perspectiva
mais comummente aceite é de que as eleições se realizem apenas no início de
2018. No entanto, vários partidos, sobretudo os da Direita, estão a exercer
fortes pressões para que este acto se realize até Junho do corrente ano e não
apenas no próximo ano. Recorde-se que a Itália não tem um Governo democraticamente
eleito há mais de três anos, o que está a gerar uma crescente contestação nos
italianos.
Por este quadro, a Itália é talvez um dos casos mais
interessantes de seguir, dadas as novas interrogações que introduz na Europa e
nos futuros possíveis realinhamentos.
*
Por cá, é o costume dos últimos 20 anos. Impera a
baixa política, sem rasgos, sem estratégia, apenas com “disputas de mercearia”,
sobretudo entre os dois maiores partidos, com os pequenos a fazerem figuras
ridículas, só para mostrarem aos amigos que existem. Nada de novo. Entretanto,
o país vai definhando.
Para animar, mas para disfarçar as insuficiências e
incompetências próprias, por cá vai agora imperando uma discussão histérica,
nada racional, quando não a roçar a estupidez, acerca do que diz ou não diz
Trump, sem cuidar de se analisar seriamente as suas propostas e programa
político e sobretudo sem tentar prospectivar como poderemos nós aproveitar o
novo eixo predominante do Poder Mundial.
Enfim, apenas o costume, a pequenez mental de uma
certa classe dirigente e comunicacional, já bem conhecida de todos, e a
costumeira obediência cega e canina a certos “lobbies” minoritários (mas
poderosos, por terem os órgãos de comunicação na mão). E é tudo.
Enquanto isso, lá fora pensa-se e passa-se o que é
realmente importante e relevante para o futuro da Humanidade e sua organização.
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Melhores cumprimentos
Miguel Mattos Chaves
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