07 janeiro 2015

REFLEXÃO para o Ano Eleitoral que agora começa

A Minha Visão – A Direita e a Esquerda – As diferenças reais
Muitos politólogos da esquerda, e alguns, poucos, da direita têm-se empenhado em querer passar a mensagem de que esta dicotom...ia política já não faz sentido.

Entrou na moda o escrito de Francis Fukiama que, após a queda do muro de Berlim se tinha chegado “…ao fim das ideologias…” por desaparecimento da teoria do “inimigo comum” que fortalecia as mesmas e lhes dava o sentido.

A minha visão e opinião não é essa e deixando de lado o “politicamente correcto”, bem como deixando de lado alguns livros teóricos sobre a matéria, proponho hoje uma leitura sobre a vida prática das pessoas (destinatário final de todas as teorias políticas) e os posicionamentos de cada sector face às realidades do quotidiano, e a sua ligação ao posicionamento Direita e Esquerda. Assim sendo e em primeiro lugar:

1. O que diferencia a esquerda da direita?
1.1 - Primeira tese que as diferencia: a Igualdade!
1.1.1 A direita considera que os Seres Humanos, as Pessoas, não são todas iguais e como tal devem ser tratadas.

1.1.2. A esquerda diz que todas as pessoas são iguais e como tal devem ser tratadas.

Uma primeira nota sobre estas duas teses em confronto.

Partindo do princípio, na minha opinião verdadeiro, de que as pessoas não são todas iguais a direita está melhor habilitada, porque mais realista, a tratar da governação da sociedade.

Vejamos então se é verdade que as Pessoas são todas iguais:

- No género: morfologicamente os homens são iguais às mulheres?
- Na pirâmide demográfica: as crianças são iguais aos jovens e estes aos adultos?
- Nas características físicas: as pessoas são todas iguais?
- Na raça: todas as pessoas são da mesma raça?
- Na religião: todas as pessoas professam a mesma religião? Todas têm religião?

- Na formação: todas as pessoas chegam ao mesmo nível de habilitações literárias, isto apesar de o ensino ser universal? Todas as pessoas, com o mesmo grau de habilitação literária, dentro da mesma área do saber, tem a mesma capacidade de desenvolvimento e aplicação dos seus conhecimentos?

- Na educação: dois filhos, irmãos, com o mesmo tipo de educação e de condições de base, são muitas vezes completamente diferentes nos seus comportamentos e atitudes perante a vida. Porquê?

- No carácter: todas as pessoas são conservadoras? Todas são inovadoras? Todas são pioneiras? Todas são líderes naturais? Todas são seguidoras?

- Nos objectivos de vida: todas as pessoas querem atingir o mesmo objectivo?

Dos Três Pilares de base: Ser, Ter, Parecer – todas as pessoas nomeiam o mesmo pilar como ideal de vida?

Enfim, poderia continuar com mais algumas questões, para mim, de resposta óbvia. A resposta continuaria a ser: NÃO! Não somos todos iguais! Somos todos diferentes.

É interessante fazer este exercício mental fora das conjecturas, e do enquadramento, das “escolas oficiais” de pensamento, preferindo olhar para a realidade e deitando um olhar sobre ela, para tentar chegar a um ponto onde se encontre um caminho mais consentâneo com a realidade, partindo daí para o traçar de um caminho possível que possibilite às elites governantes alcançar o bem comum de uma sociedade, fim último de qualquer filosofia política.

1.2. A Organização da Sociedade
A sociedade humana é estratificada. Sempre o foi e sempre o será! Porquê?
Porque o ser humano é único no seu ser; na sua forma de pensar; na sua forma de agir e interagir com os outros seres humanos; na sua capacidade de sobrevivência; na sua capacidade de prever o futuro e de se precaver dos tempos menos favoráveis; na sua capacidade e habilidade de angariar bens; na sua relação com o transcendental; no seu grau de curiosidade de perceber o mundo que o rodeia.

E, sendo diferente, organizou-se naturalmente em consequência, formal ou informalmente, desde os primórdios da humanidade.

Tendo por base de organização da vida, a célula familiar (pai, mãe, filhos - mesmo quando não havia cerimónias civis ou religiosas para o estabelecer), organizou-se a sociedade segundo as capacidades de cada um dos seus membros de desenvolver certas tarefas necessárias á sua própria sobrevivência e á dos membros da sua família.

Organizou-se progressivamente estabelecendo e organizando os laços com os elementos da sua família alargada (avós, tios e primos direitos), com os membros do seu clã (tios avós, primos chegados e afastados), com o seu grupo social (amigos e conhecidos) e com os seus compatriotas (aqueles que racionalmente ou irracionalmente partilham os valores da Nação e da Pátria).

1.3 – As Necessidades e os Desejos E nos primórdios a sobrevivência era aquilo que é necessário á manutenção da vida, ou seja:
a) Alimentação,
b) Abrigo e
c) Vestuário.
E houve batalhas e guerras pela conquista destes três factores/recursos.
E hoje? Estas condições de pura sobrevivência mudaram? Não!

Convém aqui precisar o que quero, com isto, dizer. O ser humano complexo físico e mental tem: Necessidades e Desejos.

As necessidades são as três funções, acima descriminadas, necessárias á sobrevivência física, sem as quais não existe a possibilidade de sobrevivência; de vida mais ou menos prolongada.

Os desejos já entram no capítulo diverso do psicológico, do qualitativo, i.e. melhor alimentação, melhor abrigo, vestuário mais confortável, querer arranjar técnicas para viver mais tempo e com melhor qualidade de vida física, querer mais conforto, mais segurança física ou psicológica, etc...

Garantidas as três condições de base á sobrevivência, o ser humano busca a melhoria qualitativa e o prolongamento da sua vida terrena.

Assim as necessidades evoluíram segundo o percurso evolutivo do ser humano, ser pensante, na busca de melhores condições de vida. Ser humano entendido como único e como membro da comunidade de base que o rodeia.

1.4 – Mais algumas Diferenças e Contradições
Então se somos todos diferentes porque diz a esquerda que somos todos iguais?

Porque abstractamente, utopicamente, quer chegar á felicidade da sociedade através de medidas gerais e universais.

a) Somos todos seres humanos! Todos temos corpo e sangue!
b) Todos temos capacidade de raciocínio! Todos queremos melhor vida!

Estes pontos de partida têm uma resposta também óbvia: Sim!
Mas convenhamos que para definir uma sociedade de seres humanos, não chega.
E muito menos para partir do princípio que somos todos iguais!

Se nas questões que se prendem com a condição de todos sermos seres humanos e todos sermos corpo e sangue não há divergências.

Mas o sangue é todo igual? (i.e. Tipo A, B,C e subgrupos). O ADN é igual para todos os seres humanos? Pelos vistos até isso a ciência veio dizer que não! Tudo bem. Deixemos isso de lado, como deixemos igualmente de lado o facto de os corpos não serem iguais. E ainda bem! Perdoem-me a graça: Que monotonia seria a vida!

Já no que se refere á capacidade de raciocínio. É verdade que todos a temos. Mas... o grau em que temos essa capacidade é que é diferente de pessoas para pessoa e isso faz a sua diferença na progressão de vida.

Todos queremos melhor vida! Verdade! Mas todos dizemos o mesmo quando verbalizamos: melhor vida? O que é para cada um, uma melhor vida?

Mais uma vez, isso depende de cada pessoa, do tempo em que se desenrola a sua vida, das coisas disponíveis e do espaço em que vive.

Regressemos então á base, da base: somos todos humanos!
E aqui a Esquerda assenta o seu cavalo de batalha e tira conclusões: se somos todos humanos, logo...somos todos iguais, logo... todos temos direito ao mesmo, logo...não deve haver classes, logo...a sociedade não é estratificada, logo ...etc...

E extrapola todas as consequências desta sequência para o seu pensamento dominante, para a sua acção política.

Mas logo entra em contradição com o seu cavalo de batalha pois acrescenta: é preciso defender os mais fracos e os menos capazes!

Então em que ficamos? Se há mais fracos e mais fortes, somos todos iguais? Mais fortes e mais fracos em quê?

Defendem-se dizendo que a sociedade a caminho do socialismo ou da social-democracia sofre dessas desigualdades, mas que quando lá estivermos seremos todos iguais... daí a célebre frase dos socialistas e sociais democratas: “a caminho do socialismo ou a caminho da sociedade sem classes”.

Pergunto: como? Se tudo o que está para trás escrito das diferenças que existem entre os seres humanos reais é uma realidade e impossibilita cientificamente essa possibilidade?

1.5 – E a Lei? E as Defesas? E a Previdência?
Iguais perante a Lei! Eis a suprema versão da esquerda, falhadas as outras versões. Muito bem e todos concordamos neste ponto.

Mas .. Quem elabora as Leis?
1º - São Seres humanos com capacidades próprias e distintas dos demais.
2º - O seu cumprimento é, para todos, obrigatório. Muito bem e todos concordamos neste ponto.
Mas... todos a cumprem? E quando não a cumprem, todos são condenados da mesma forma ou grau?
3º - Quem julga e pune o não cumprimento das Normas que possibilitam a vida em sociedade? Seres humanos tecnicamente preparados para tal, logo diferentes.

Quando a Direita diz, que é necessário proteger os mais fracos assume que é face aos mais fortes. Sabe que existem mais fortes e mais fracos e Assume-o claramente, sem hesitações nem complexos, como assume todo o postulado de que somos todos diferentes. É, em consequência, mais coerente com o seu postulado de base: os seres humanos são todos diferentes. Daí a necessidade de proteger o mais fraco do mais forte.

Então que Consequências destas premissas de base se podem tirar?

Uma delas foi a que levou a Direita a criar (no pós-guerra) o Estado Providência, que não o Estado Social (criado pela Esquerda sobre as fundações do primeiro).

NOTA:
Por favor não confundir a DIREITA com LIBERAIS.
Uns nada têm a ver com os outros. (este erro é tão comum hoje em dia em Portugal e isso tem contribuído para a falta de organização e afirmação da Direita em Portugal).
Os Liberais defendem básicamente a LEI do MAIS FORTE. Isto é, baseados na Teoria da Mão Invisível de Adam Smith, os liberais postulam que o Estado emanado da Nação deve ter apenas um papel residual e não deve intervir nas actividades individuais. Chegam mesmo a rejeitar o papel ao Estado de legislador, controlador (para evitar abusos de Poder) e de supervisor (garante do cumprimento das Normas Saudáveis de vivência em sociedade e de respeito pelos direitos que não colidam com os direitos dos outros) abrindo assim as portas a que os mais capazes, por natureza, possam dominar e fazerem o que quiserem dos mais fracos.
A Direita rejeita este postulado, como adiante se verá!

A Direita assume:
- Somos todos diferentes. Há os mais capazes e os mais fracos. E postula que por isso ser uma realidade e por não querer ver instalada na sociedade a lei do mais forte diz claramente, sem medo das palavras, que por isso é preciso proteger os mais fracos.
De quem? Dos mais fortes!

Mas isto é feito sem amachucar os mais fortes, os mais capazes.
Porquê? Porque os mais fortes e mais capazes são os que têm mais capacidades de organização da sociedade nos diferentes níveis, de empreendedorismo, de condução da sociedade, de prover ao sustento dos demais, de defender a sua comunidade de ameaças de estranhos á mesma. E como tal são necessários e imprescindíveis a uma sociedade equilibrada.

Mas estes têm, sejamos claros, o dever de protegerem os mais fracos, os menos capazes. Em primeiro lugar ensinando-os, enquadrando-os, dando-lhes a “cana para pescar”. Não o peixe. Isso só em casos de incapacidade física ou mental, que impossibilitem as pessoas de angariar o seu próprio sustento.

O dar a “cana” é proporcionar aos menos capazes os ensinamentos necessários á sua sobrevivência digna na sociedade.

Por isso a Direita é normalmente muito atenta á construção de Normas/Leis que protejam os interesses da sociedade sem possibilitar aos mais fortes o abuso sobre os mais fracos e evitando que estes tentem tirar desforço. Tenta, no seu ordenamento jurídico, equilibrar os interesses em presença, privilegiando o Indivíduo e a Família.

Mas a Direita foi mais longe: e dada a imprevidência natural da maioria criou um sistema qualitativo - o Estado Providência - que permite:

1- Quando estão doentes, e não têm meios suficientes, as pessoas terem assistência médica – as caixas de Previdência - Assistência Médica e medicamentosa;

2- Quando trabalham e se encontram numa situação de involuntáriamente estarem desempregadas, não morrerem de fome: o subsídio de desemprego;

3- Quando trabalharam toda a sua vida, quando atingem uma idade avançada, e já não podem trabalhar, não morrerem de fome: a pensão de reforma.
Ou seja o Estado Previdência, alimentado ao longo da vida pelas contribuições dos cidadãos.

A Esquerda o que fez: tomou todas estas evoluções (almofadas sociais) e flexibilizou de tal maneira as regras de acesso ao sistema, criando o Estado Social, que subverteu a ideia inicial de ajuda aos que mais precisam. Agora é para TODOS, precisem ou não. Daí a sua falência!

ATENÇÃO: Este Estado Providência tem sido o responsável pela manutenção da Paz no Continente Europeu, desde a 2º guerra mundial, dado que é uma "almofada social" fundamental que ninguém quer perder!

2. Referências Humanas – os três níveis - Individual, Colectivo, Transcendental Mas voltemos, para já, á organização da sociedade, às referências humanas:

O primeiro nível da organização humana é a família.
Em primeiro lugar o ser humano precisa de ter á sua volta o núcleo familiar para poder ser uma pessoa equilibrada, segura, capaz de desenvolver as suas capacidades de inter-relacionamento saudável com os outros níveis. É o seu “porto de abrigo”, a sua influência directa no dar e receber, a sua fonte primeira de aprendizagem.

Em segundo lugar o ser humano necessita de sentir, de saber, que pertence a um grupo social e a uma comunidade de interesses, de língua, de história, de cultura:
- Uma Nação, com território, com Povo que é, juntamente com os valores e factores comuns, a sua Pátria. A sua grande casa e dos seus comnacionais, dos seus compatriotas, que o ajuda a identificar-se no meio do Mundo como ser gregário e Políticamente organizado e identificado.

Quer a Nação tenha um Estado que a represente, ou não. Temos inúmeros exemplos disto; um exemplo apenas: o Povo Curdo de que tanto se fala. Não é pelo facto de terem o seu território dominado pela Turquia e pelo Iraque, não é pelo facto de não terem um Estado, um Poder Político reconhecido e independente que os represente, que deixam de ter um sentimento nacional, um sentimento de Pátria fortíssimo.

Em terceiro lugar o ser humano necessita de acreditar no transcendental. Na sua busca pela primeira razão da sua existência, - da existência dos outros, do seu Mundo, do Mundo, - chega a Deus. Mesmo os que não acreditam na sua existência acabam por lá chegar pela Razão.

Se não vejamos: a teoria mais na moda actualmente é que o Mundo foi gerado pelo “Big-Bang”! Tudo bem! Isso pode até ser a causa material, ao alcance da observação limitada do ser humano...! Mas... quem deu origem á matéria que originou o “Big-Bang”? Dizia Louis Pasteur: “quanto mais aprofundo os meus conhecimentos científicos, quanto mais procuro a causa primeira, mais chego a uma resposta: Deus”.

E assim de há muito que, independentemente das religiões, se estabeleceu no Ser Humano a trilogia fundamental das suas circunstâncias. A sua própria individualidade é rodeada dos três factores decisivos:

1º nível - O da sua organização próxima. O seu “porto de abrigo”, a esfera da sua convivência do dia-a-dia: A Família;

2º nível - O da sua organização comunitária, do seu sentimento de pertença a uma nacionalidade, a uma comunidade psicologicamente coesa: a Nação e a Pátria;

3º nível - O transcendental, o que o transcende, que está fora do seu domínio e muitas vezes fora da sua compreensão, o sobrenatural: Deus

E por temor deste enunciado, da sua força agregadora, da sua força face a outras ideias, a esquerda entreteve-se a deslustrar esta trilogia.

Porque defende um Internacionalismo e uma Igualdade que só existe na utopia. Mas como quer valorizar essas premissas e transformá-las em valores, a Esquerda ridicularizou e tentou menorizar esta trilogia, da raíz mais profunda, do ser humano que a Direita portuguesa, (a que deu corpo ao regime autocrático da 2ª República), e a Democrática que também foi fundadora da 3ª República, defende e deverá continuar, porque natural, a defender.

Já não vale a pena referir que até á década de 1960, esta trilogia era defendida pela esmagadora maioria da população portuguesa. A memória só é curta para alguns.

Só com o surgimento e o fortalecimento dos regimes internacionalistas (leia-se socialistas e comunistas, que buscaram as suas raízes no século XIX) é que esta trilogia foi tentativamente substituída por outra: Igualdade, Internacionalismo, Ateísmo/Laicismo.

Em Resumo:

NÍVEL ---------- ESQUERDA ------------ DIREITA

Individual: -- Igualdade/Indivíduo ----- Diferença/Família

Colectivo: -- Internacionalismo ----------- Nação/Pátria

Transcendental: - Ateísmo/Laicismo --------- Deus

O livre arbítrio é um dado do ser humano.
Pode fazer o bem ou o mal. Pode acreditar ou não acreditar. Pode defender as ideias que quiser.
Ora assim sendo não tente a esquerda retirar o livre arbítrio aos outros. Livre arbítrio que para si, e para os seus seguidores, guarda.
Que a Esquerda tente impor como únicos os seus valores, a sua trilogia é legitimo e faz o seu trabalho.

Que a Direita por medo, por ignorância, por preguiça ou por inação os aceite é que me parece mais grave.

As consequências políticas, económicas e sociais de cada um destes postulados são diversas.

Melhores cumprimentos
Miguel Mattos Chaves
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